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Autor: Bruno Milagres

Estive pensando a respeito do referendo sobre o desarmamento, e umas coisas estranhas, digo, engraçadas, talvez, me apareceram. Referendo desde o princípio sempre me lembra “reverendo”. Mas acho que isso não importa.

A questão das armas, esta, sim, tem importância agora.

Hoje cedo, vi algumas crianças dormindo na rua. Elas pareciam fazer parte de um cenário, todas dispostas de forma tão perfeita em meio ao amontoado de papelão e lixo. As pessoas que andavam pelas ruas, todas tão “arrumadinhas”, de banho tomado e cabelo molhado, seguindo para seu cotidiano de trabalho. Vi um senhor que andava sozinho, com passos lentos e olhar perdido. Vi os meninos seguindo para o colégio, conversando calorosamente.

A gente vê tanta coisa no caminho da casa para o trabalho.

Ainda não falei de armas, não é? Mas já chego nelas.

Hoje houve uma briga no parlamento. Dois deputados em uma discussão ferrenha, partindo para uma agressão física, foram os personagens de mais uma comédia da vida pública. Hoje, o presidente fez o que os presidentes fazem no seu dia-a-dia. Os juízes julgaram, os artistas pintaram, os garis varreram, os jornalistas escreveram e, claro, os amantes, amaram-se.

Agora, vou falar do reverendo.

São tantos argumentos sobre o assunto e tantas opiniões e tantos números e tantos discursos que, por um breve momento, acho que entendi sobre o que se trata o referendo. Acho, pois, são duas da manhã e, talvez, eu só esteja com um pouco de sono. Trata-se de uma disputa entre o “sim” e o “não”, entre o “ser” e o “não ser”, entre dois lados.

Quando criança, tive algumas brigas, e hoje me lembro de muito pouco sobre elas e seus motivos. As crianças na rua brigam todos os dias para viverem mais um dia. O gari briga com o sol do meio-dia. No parlamento, a briga é pelo poder. O presidente briga para manter o controle. O senhor que andava lentamente briga com as lembranças. Acho que eu brigo com as palavras agora. E todos nós brigamos com as armas que temos: punhos, pincéis, palavras e também armas de fogo.

Estamos armados o tempo todo. E não iremos nos desarmar.

As armas que usamos todos os dias, no nosso dia-a-dia, são muito mais letais que simples instrumentos. São invisíveis. São feitas de um material que não tem forma nem substância, de costumes, de valores, de idéias e ideais. E matam.

Todos estamos armados, mas, sim: podemos baixar as armas.

Marcos Arthur Escrito por:

Inquieto. Curioso. Companheiro da Marina e pai do Otto. Ultramaratonista. Facilitador de aprendizagem. Sócio-fundador na 42formas. Escritor amador. Eterno aprendiz.

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