Click!

No último sábado à noite, tendo decidido ficar em casa após uma virada de noite com amigos incríveis, resolvi trabalhar em alguns detalhes da minha página pessoal equanto, como de hábito, a TV me fazia companhia. Entre uma olhadela e outra na programação, comecei a prestar atenção em Click, um filme estrelado por ninguém mais do que… Adam Sandler! Não, eu não sou fã do comediante, embora ache Espanglês bastante interessante – mais pela questão do conflito de culturas e, claro, pela estonteante Paz Vega.

Bom, vamos parar de divagar, antes que este post vire um compêndio de filmes do ator e de suas belas coadjuvantes. Afinal, não ganhei para isso, eheheh… Então, a despeito da presença da bela (tenho de comentar, não resisto) Kate Beckinsale em Click, devo retornar ao propósito original do texto.

O filme não é nada mais do que um grande clichê explorado por ângulos infindáveis neste ainda jovem século XXI: um executivo, obcecado pelo trabalho e pelas possibilidades de “subir na vida”, deixa-a de lado para alcançar o sucesso profissional. Sim, é um clichê, mas não deixa de trazer à tona mais uma vez um dos grandes dilemas da humanidade: o vício em trabalho.

Alguns dos que bem me conhecem dirão: “Você, criticando isso?” E têm razão. Mas os que me conhecem ainda melhor saberão dizer o quanto tenho combatido esse mal (inclusive em mim mesmo). Calma, pessoal. A intenção aqui não é demonizar o trabalho e tratá-lo como algo nocivo à saúde e à sociedade. A não ser que você faça dele a sua tuberculose.

Discussões sobre o tema têm sido levantadas por especialistas (ou não) em todas as partes do mundo, mesmo nos países mais capitalistas (principalmente neles). O trabalho (e por vezes o excesso de) é assunto comum em rodas de conversas e frequentemente é posto como algo mais importante do que “o resto”, ainda que subjetivamente – lembre-se daqueles momentos em que não se consegue falar sobre nenhum assunto que não seja trabalho.

Então, o que digo aqui definitivamente não é nada de novo. Veja bem: o trabalho e as responsabilidades que ele traz são muito importantes para o progresso da humanidade, e geralmente os workaholics começam como pessoas comprometidas e empenhadas em dar o melhor. Essas são as partes boas, principalmente quando se vive em meios onde a procrastinação e a Lei de Gérson são as regras – vide o nosso ambiente político. Mas a coisa começa a complicar quando essa dedicação ultrapassa alguns limites e passa a ser o único propósito da vida de uma pessoa.

É aí que surgem os “ditadores corporativos”, geralmente empresários ou executivos que se julgam bem sucedidos, mesmo que suas vidas não signifiquem muito mais do que levantar pela manhã para o trabalho e continuar nele até o dia seguinte. Isso pode facilmente estar associado à falta de amigos, desestruturação familiar ou a uma “simples” obsessão pelo poder. Cuidado. Obter sucesso é muito bom, mas de preferência em campos diversificados da vida.

Geralmente, esses indivíduos são os mesmos que cancelam as férias dos outros ou acham absurdo que tenhamos “tantos feriados” – e que a Lei determine uma jornada de “apenas” oito horas de trabalho diário e um “longo almoço” de uma hora. Se o seu chefe costuma agir assim, desconfie. Você pode estar sendo mais uma vítima daqueles que querem ganhar o mundo às custas dos outros. E geralmente eles não se importam com você, a não ser que “você” signifique lucro. A mesma mentalidade ainda da Revolução Industrial.

Se você é um desses que sofre com o excesso de trabalho que impõe a si mesmo, ouso compartilhar algumas dicas que podem ser úteis para que continue trabalhando com comprometimento, mas sem deixar de lado coisas valiosas como a família, os amigos ou uma boa viagem, entre outras. Deixo bem claro que essas dicas são apenas fruto de experiência e observação, já que não sou nenhum expert sobre o assunto. Aí vão elas (não necessariamente nesta ordem):

  • Procure comprometer-se com uma atividade regular que lhe traga prazer. Pode ser um esporte, uma atividade cultural ou uma aula de culinária. A criatividade é por sua conta, mas atenção: não se envolva com várias coisas ao mesmo tempo, pois você poderá não se dedicar a nenhuma delas de verdade, o que pode causar mais frustração.
  • Procure mapear quantas horas por dia você tem trabalhado e tente estabelecer metas de redução. Funciona mais ou menos como estabelecer metas para aquele projeto importante que você precisa entregar “pra ontem”.
  • Se você não é médico, dentista, veterinário, policial, bombeiro ou algo que o valha, lembre-se: ninguém vai morrer se você deixar um pouco do trabalho de hoje para amanhã. Mas repito: não nos deixeis cair em procrastinação, amém.
  • A terapia sempre pode ser uma boa opção para você se conhecer melhor e admitir certas coisas para si mesmo. Isso pode ajudá-lo a aprender como controlar a ansiedade e ter disciplina para trabalhar menos. Além de descobrir o modo como é capaz de lidar com seus próprios conflitos.

Se tudo mais falhar e você chegar à conclusão de que não consegue parar de trabalhar, pergunte-se mais uma vez se você tentou de verdade – talvez ainda não tenha encontrado o seu “click”. Se a resposta que der a si mesmo for sim, aí, meu amigo, não resta outro caminho que não seja buscar ser feliz com isso. Tente encontrar o máximo de prazer no que faz (isso vale pra todos, claro, ainda que em outros contextos), não tente levar os outros com você e procure não deixar a saúde de lado. Refeições regulares e check-ups anuais são recomendados.

Para concluir, torno a dizer que abandonar o vício pelo trabalho não se trata de deixar o compromisso de lado, mas de buscar equilíbrio em tudo o que fazemos. Afinal, embora dizer isso seja mais um clichê, o desempenho e o sucesso no trabalho dependem muito do quanto estamos satisfeito com “o resto” das coisas que fazem parte desse outro clichê que chamamos vida.

Marcos Arthur Escrito por:

Inquieto. Curioso. Companheiro da Marina e pai do Otto. Ultramaratonista. Facilitador de aprendizagem. Sócio-fundador na 42formas. Escritor amador. Eterno aprendiz.

6 Comentários

  1. luiza cavalcanti
    03/04/2012
    Responder

    Boas dicas! Você as está seguindo?

  2. 08/04/2012
    Responder

    Acho que isso poderia entrar pra as minhas metas do ano! E certamente seria a mais difícil delas. Bjocas! Bê

    • 09/04/2012
      Responder

      Você não é movida por desafios? Encare isso como um. 🙂

  3. helenaokada
    12/04/2012
    Responder

    Nesse filme, o protagonista clica para rever a sua vida, olhando de fora e re-experimentando o seu próprio passado e também clica para o futuro, visualizando duas possibilidades: a da realização afetiva e a da ambição profissional. Tá, eu já vi esse filme, também. kkkk

    O que me chamou atenção é que você citou a terapia, que, queira ou não, tem o papel de investigar o passado para compreender a melhor forma de investir em um futuro mais saudável.

    Observando que o termo “click” é quase uma onomatopéia da nossa ação em equipamentos que respondem operando uma necessidade nossa ou apresentando conteúdos – sejam eles passivos de interatividade ou não -, me surpreendeu a espontaneidade com que você associou o termo “clichê” ao “click”.

    Embora ambas as palavras se iniciem com “cli”, a raiz de “click”, provavelmente, não é a mesma de “clichê”, mas o termo francês “clichê” era o nome dado às matrizes de impressão tipográfica e de gravura. Ou seja, uma matriz é a base para repetições, reproduções. Hoje em dia, poderíamos chamar um filme fotográfico e um arquivo “.doc” de clichê, também!

    Este “click” essencial para as mudanças, normalmente, é encontrado no que “já conhecemos” e, como você já havia escrito esse texto há alguns dias, com um “click”, venho propor essa nova forma de olhar para o seu post. 😉

    Durante a leitura, me lembrei de “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de Benjamin e do delicioso filme (cheio de clichês), “Tudo pode dar certo” do Woody Allen.

    Parabéns pela poética de suas palavras, Marcos!

  4. 16/04/2012
    Responder

    Olha aí, irmão, se achar que contribui, o livrinho “Não faça tempestade em copo d´água no trabalho”, de Richard Carlson, tem algumas dessas e outras dicas para não “se matar” trabalhando.
    Lembrando que livros de “auto-ajuda” são tão bons quanto — mas não uma opção — à terapia.
    Valeu,

    Sam

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