Demissão por quê?

Alguns dias atrás, recebi um e-mail com o seguinte assunto: “Pessoas não se demitem das empresas, mas de seus líderes.”. A mensagem trazia a história de uma personagem fictícia que, pouco tempo depois de conseguir o “emprego dos sonhos”, pede demissão em função de seu coordenador tóxico. O final do texto traz uma chamada à ação, recomendando a inscrição em um evento sobre liderança e cultura organizacional.

Por melhores que sejam as intenções da entidade organizadora e/ou de quem criou o enredo do e-mail marketing, gostaria de propor uma reflexão a respeito do título: a frase “Pessoas não se demitem das empresas, mas de seus líderes.”, ao mesmo tempo que sugere uma mudança de paradigma e chama importante atenção para a influência da liderança sobre a perda de boas e bons profissionais, pode ser perigosa ao enviesar para a crença de que todo e qualquer pedido de saída se dá em função de chefes. Digo isso porque tenho ouvido muita gente repetir a sentença como se fosse uma resposta completa e inequívoca para o problema crônico da evasão de talentos. Não é. Melhores salários, perspectivas mais promissoras e até o regime de trabalho estão entre as várias outras razões que podem levar alguém a querer mudar de emprego.

Vale explicar que a ideia aqui não é criticar o evento sobre liderança e cultura – pelo contrário, acho fundamental discutir esses temas – mas apontar uma questão de linguagem. Nesse sentido, eu sugeriria a troca do assunto por “Muitas pessoas não se demitem das empresas, mas de seus líderes.”, sem generalizar. Essa construção me parece menos atraente, mas me soa mais fiel à verdade.

P.S.:

  • Depois de escrever isso aqui, fiquei com a pulga atrás da orelha: será que a escolha do título foi influenciada realmente pelo viés ou foi uma decisão baseada apenas na possibilidade de gerar mais cliques? Diante de um dilema como esse, escolho torcer pela primeira hipótese.)
  • Eu também não gosto da expressão “emprego dos sonhos”, mas isso já é assunto para outra publicação.
Marcos Arthur Escrito por:

Inquieto. Curioso. Companheiro da Marina e pai do Otto. Ultramaratonista. Facilitador de aprendizagem. Sócio-fundador na 42formas. Escritor amador. Eterno aprendiz.

seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *